Transparência: Facebook disponibiliza dados sobre propagandas eleitorais pagas

Facebook disponibiliza informações sobre anúncios de candidatos

Após o escândalo com a Cambridge Analytics na eleição de Donald Trump e na votação do Brexit, e em meio às cobranças por transparência em relação ao dinheiro que recebe de campanhas políticas, o Facebook criou uma ferramenta que disponibiliza aos usuários informações sobre a veiculação de anúncios na rede social: a Biblioteca de Anúncios.

A Biblioteca já está funcionando e contém anúncios sobre políticos e autoridades eleitas, candidatos a cargos públicos e “temas de importância nacional”, como descreve a rede social, nas localizações onde foram exibidos.

Esta é a primeira eleição em que candidatos podem pagar por anúncios no Facebook.

É possível obter, por exemplo, informações como o valor pago pelo anúncio, quem financiou a publicação, qual público cada campanha busca atingir, o desempenho do anúncio, a localização das pessoas alcançadas e diversos outros dados.

Você pode acessar a Biblioteca de Anúncios através do link ou nas páginas dos candidatos, no botão “Informações e anúncios”, localizado no menu de opções abaixo da foto de perfil.

Nas publicações que aparecerão na sua timelime, e na Biblioteca também, além da indicação de “Patrocinado” embaixo do nome do candidato/perfil, que já existia, você pode consultar informações mais específicas – como público-alvo e desempenho da publicação.

 

A nova ferramenta mostra valores, público e, até, o desempenho do anúncio

A nova ferramenta mostra valores, público e até o desempenho do anúncio

 

O portal de notícias G1 fez um levantamento dos anúncios relacionados aos candidatos à Presidência da República, veiculados entre os dias 16 e 27 de agosto.

Dos 13 presidenciáveis, 3 pagaram para promover suas próprias postagens: Guilherme Boulos (PSOL), Henrique Meirelles (MDB) e João Amoêdo (Novo).

Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB), Jair Bolsonaro (PSL), Lula (PT) e Marina Silva (Rede) também tiveram os nomes mencionados, mas em anúncios pagos por terceiros – em alguns casos, para criticá-los.

Álvaro Dias (Podemos), Cabo Daciolo (Patriota), Eymael (DC), João Goulart Filho (PPL) e Vera Lúcia (PSTU) não foram citados em nenhum tipo de anúncio pago.

O estudo mostrou, também, que 36 postagens com críticas foram feitas a 6 dos candidatos a presidente.

 

A lei 9.504/1997 diz que o impulsionamento (patrocínio) de conteúdo deve ser feito “apenas com o fim de promover ou beneficiar candidatos ou suas agremiações”. Juristas se dividem: uns acreditam que o argumento impede o pagamento de postagens de ataque aos adversários, enquanto outros veem a prática como possível, dentro de determinados limites.

 

Raio X dos anúncios

A Biblioteca contabilizou, no período analisado, 483 anúncios relacionados a 8 candidatos, entre os 13 que estão concorrendo. Destes, 53% foram pagos pelos próprios candidatos ou pelos partidos. Os demais 226 foram bancados por terceiros, como correligionários candidatos a outros cargos, companheiros de campanha e parceiros políticos.

Veja quem paga os anúncios dos candidatos

 

O candidato à Presidência que mais fez anúncios, no Facebook e Instagram, foi Henrique Meirelles (MDB), com 191 posts pagos e registrados no CNPJ da campanha do presidenciável. É dele, também, o anúncio mais caro até agora, na faixa de R$ 10 mil a R$ 50 mil, rendendo mais de 1 milhão de exibições para usuários da rede.

João Amoêdo (Novo) é o segundo candidato com mais anúncios próprios: são 38 postagens patrocinadas, 20 delas pagas pelo partido e 18 pela própria campanha de Amoêdo. As outras 6 foram pagas por correligionários.

O terceiro presidenciável desta lista é Guilherme Boulos (PSOL), com 28 anúncios registrados com o CNPJ de sua campanha. Outras 52 postagens foram financiadas por terceiros – 49 delas pelo deputado federal Ivan Valente (PSOL).

Do outro lado, entre aqueles que foram citados em anúncios de terceiros, quem ganha é o ex-presidente Lula, que aparece em 75 anúncios, contando com apoio direto, hashtags ou pela incorporação da alcunha de “Lula” ao próprio nome.

Curiosamente, quem financia um dos posts positivos em que o petista aparece é Henrique Meirelles, em postagem enaltecendo o período de 8 anos em que foi presidente do Banco Central, durante os dois mandatos de Lula.

Jair Bolsonaro (PSL) é o segundo que mais aparece em anúncios favoráveis, são 65, pagos por outros candidatos. Mesmo sem pagar para impulsionar as próprias publicações, tendo grande quantidade de seguidores, os posts do presidenciável possuem enorme alcance, com média de 70 mil curtidas.

De Geraldo Alckmin (PSDB), o único anúncio foi pago pelo deputado estadual Marco Vinholi (PSDB), e o de Marina Silva (Rede), financiado pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede).

Ciro Gomes (PDT) é o único candidato que, de 16 a 23 de agosto, possui apenas anúncios contrários à sua pessoa e plano de governo.

Veja também, neste infográfico que criamos, a presença (seguidores) e a atuação (publicações) dos candidatos nas redes sociais, durante a semana de 04 a 11 de setembro.

A presença dos candidatos nas redes sociais

Estratégias para conquistar o eleitor nas redes sociais

Um dos principais aspectos dos anúncios, muito usado nas estratégias dos presidenciáveis, é a escolha do público a quem se destina o post: o microdirecionamento. Esta opção possibilita que os candidatos direcionem mensagens e publicações para grupos bem definidos: por idade, gênero, região, escolaridade, interesses, entre outros.

Observando a Biblioteca de Anúncios, veremos que o candidato Henrique Meirelles (MDB), por exemplo, cria uma campanha de anúncio para cada estado brasileiro. Ou seja, para cada post, a equipe de comunicação do presidenciável cria 23 publicações com a mesma imagem e texto, mas direcionadas para os diferentes estados.

Como contraponto a favor do usuário, após os escândalos da eleição de Trump, nos EUA, o Facebook tem feito ajustes que mostrem, cada vez mais, por que e como determinado anúncio chegou até você.

 

Meirelles e Ciro usam memes para se comunicarem nas redes

Memes: tentativa e (muito) erro

Nesta corrida para aumentar o número de eleitores, tentando, inclusive, conquistar públicos diferentes, a internet é uma pista livre e memes são uma garoa fina que engana e faz os descuidados derrapararem. Nem todas as tentativas de falar a linguagem do público que se pretende atingir dão certo, até porque as redes sociais têm uma comunicação muito peculiar.

Henrique Meirelles (MDB) é um dos presidenciáveis mais velhos, com 73 anos, e protagonizou uma das mais curiosas tentativas de se enturmar com o público que tem “idade para ser seu neto”. Era final de tarde de sexta-feira, 10 de agosto, quando o Brasil foi surpreendido por um GIF do ex-presidente do Banco Central: “Sextou!”, pisca os dizeres da montagem sob fotos de um “esmagado” e pouco carismático Meirelles.

Guilherme Boulos (PSOL) também foi atrás de um público que talvez não seja, a princípio, seu eleitor. Buscando atingir jovens adultos de classe média, publicou um pôster chamado “BoulosPalooza”, em referência ao evento musical realizado na capital paulista. As principais atrações do “lineup” seriam “revogação da reforma trabalhista”, “reforma tributária” e “direito à moradia”, entre outras.

Se as eleições dependessem da criatividade e intimidade dos candidatos com as redes sociais como canal de comunicação, o país possivelmente teria problemas (ainda mais) sérios.

Outro que também tentou utilizar a linguagem de internet para conquistar eleitores diversos foi Ciro Gomes (PDT). Apesar da boa intenção, o meme publicado peca pelo excesso de imagens e, pior, imagens já desgastadas pelo uso. No mesmo GIF aparecem Keyboard Cat – o meme mais velho da internet –, John Travolta “perdido” no filme Pulp Fiction e, em um Ciro fazendo sinal de hangloose, os famosos óculos Thug Life. Na melhor das hipóteses, essas tentativas de aproximação farão o eleitor sorrir pelo esforço.

 

Talvez você tenha estranhado – este é um dos primeiros textos sobre política em nosso blog. No Brasil, existe um ditado que diz que política não se discute, e nós da Magic concordamos. Política não se discute, se conversa. Com diálogo, respeito às diferentes opiniões e sabendo que, sempre, podemos aprender um pouco mais.

Veja também: A nova masculinidade na publicidade

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